Polo cai e, após investimento, teme debandada: 'vai bater na porta por emprego?'

Brasil se despede da Rio 2016 no polo aquático / Foto: Al Bello / Getty Images

Rio de Janeiro – Há poucos anos atrás, pouco ou nada se ouvia falar sobre o polo aquático brasileiro, a não ser em tempos de Jogos Pan-Americanos, a cada quatro anos. Com presença discreta em Jogos Olímpicos, e em poucas edições, a modalidade era a mais preterida do país em se tratando de esportes coletivos com bola. Hoje, mesmo eliminado na fase de quartas de final, a seleção masculina do Brasil conseguiu sair da Rio 2016 com um sentimento de dever cumprido. Pelo menos é isso o que disseram os jogadores brasileiros à imprensa ao final da partida desta terça-feira.

"A avaliação é muito positiva, um ano atrás ninguém nunca imaginaria que a gente estaria jogando quartas de final de igual para igual com a atual campeã olímpica", avalia Felipe Perrone, um dos principais jogadores da equipe. 

A partida

O Brasil começou o primeiro tempo do jogo à frente do placar, com gol de Felipe, para delírio da torcida que veio em bom número para as quartas e final. Mas a partida, como já se sabia, seria difícil, e a Croácia logo abriu dois gols de diferença no placar, trabalhando muito bem a posse de bola e se escorando na defesa faltosa do Brasil para ter mais tempo nas jogadas. O time conseguiu se aproximar no placar para fechar o primeiro quarto em 3 a 2 para os croatas.

O segundo quarto foi marcado pela quantidade de finalizações concluídas com sucesso dos croatas, que conseguiram alargar o placar com mais quatro gols. O Brasil se manteve com dificuldades de trabalhar a bola nos 30 segundos para a posse de bola e aumentou o marcador apenas uma vez, deixando a metade do jogo com o acumulado de 7 a 3 para os campeões olímpicos e mundiais.

No terceiro quarto o Brasil renasceu na partida, que parecia estar destinada a uma vitória fácil da Croácia. Foram três gols marcados, e que recolocaram o time brasileiro na disputa pela vaga na semifinal. A apenas dois gols dos croatas, a seleção foi para o tudo ou nada no tempo decisivo de jogo.

Goleiro brasileiro sofreu com algumas falhas / Foto: Al Bello / Getty Images

"Ninguém tem dúvida da qualidade desse outro time, mas a gente foi para cima. O grupo foi guerreiro, lutou até o fim, contra uma seleção que eu acredito que vai sair com uma medalha daqui. O mais importante foi o grupo em si ter se dedicado tanto nesse ciclo para representar da melhor maneira possível", afirma Gustavo Grummy, atleta da seleção brasileira. 

E o tudo ou nada do último quarto acabou de alargar o placar croata, com falhas graves na defesa que, aberta, deixava espaços grandes na piscina para o excelente ataque dos europeus. O resultado foi um desastroso último quarto, com três a zero para a Croácia.

No placar final, 10 a 6, e o Brasil eliminado nas quartas de final, depois de uma campanha empolgante com três vitórias sobre boas equipes na fase de grupos.

"A gente tinha condição de ganhar esse jogo, mas o esporte é assim, a gente não soube aproveitar nossas oportunidades, eles souberam. Ninguém errou nada porque quis, o goleiro deles tem qualidade, é o atual campeão europeu de clubes, foi eleito o melhor goleiro lá, e teve mérito no que fez", emenda Grummy. 

Ratko Rudic, técnico croata que foi trazido para treinar a seleção, num enorme esforço financeiro do Comitê Olímpico do Brasil (COB), diz que as Olimpíadas deixarão um legado para o esporte no país. 

"Fica um grande interesse pelo polo aquático depois das Olimpíadas, não só no Rio de Janeiro. É uma promoção, mídia, para o polo aquático. E quando os jovens começam a conhecer, eles vão começar a jogar. O Brasil é uma grande nação esportiva, com tradição de jogos coletivos com bola, futebol, basquetebol, vôlei... E eu acho que o polo, com investimento, pode chegar a esse nível e jogar a próxima Olimpíada melhor que a Croácia", espera o treinador, que não continuará à frente da equipe. 

Futuro incerto

O que mais preocupa agora é a continuidade do projeto que colocou a seleção brasileira entre as oito melhores do mundo - e que pode melhorar ainda mais essa posição, uma vez que disputará mais dois jogos para definir do quinto ao oitavo colocado.

Jogadores foram repatriados para integrar seleção / Foto: Al Bello / Getty Images

Foi feito um investimento grande para naturalizar e repatriar atletas estrangeiros, com garantia de salários altos (alguns da ordem de R$ 20 mil), além da própria vinda de Rudic. 

"A gente investiu igual ou menos que quase todos os países. Na Croácia, ao ganhar a medalha, a partir de 35 anos, eles têm aposentadoria para a vida inteira. E o principal objetivo, dentro de uma Olimpíada em casa, a gente conseguir divulgar o esporte, promover o esporte, isso foi atingido", pondera Perrone. 

Para ele, o ideal seria a manutenção do projeto tendo em vista o próximo ciclo olímpico. Os altos salários, segundo ele, devem ser negociados caso a caso, mas é preciso pagar algo a mais que o bolsa-atleta (programa do governo federal), que banca R$ 1.700,00 para os atletas.

"Pedem dedicação integral, para você abrir mão de tudo para jogar uma Olimpíada. Sem um apoio financeiro, você jogaria isso para depois ficar de mão abanando? A gente agora acaba a Olimpíada, e agora quem deixou de estudar, trabalhar, agora vai bater na porta para procurar emprego? Ninguém vai dar emprego porque você estava se dedicando para a Olimpíada. O bolsa atleta é R$ 1.700,00...", explica o jogador. 

"Cada caso vai ser um caso, cada pessoa vai ter ali o seu momento de decisão e as opções. O Bernardo, que jogou incrível, largou a oportunidade de fazer uma faculdade de graça nos Estados Unidos. Então cada caso vai ser um caso. Mas acho que o principal legado é a gente ter conseguido romper o ciclo de só se investir com resultado. Ficava nesse ciclo vicioso, que é não tem resultado, não tem investimento... E aí é complicado", finaliza Perrone. 

Para o técnico, chegar às quartas de final era um sonho, e ele foi atingido. "Era um sonho para todos. Todos os jogadores eles sonham, nós trabalhamos muito duro, eles fazem tudo para conseguir chegar às quartas de final, porque nosso primeiro objetivo, quando eu cheguei no Brasil era quartas de final. Não se podia imaginar que a gente chegaria até às quartas", afirma. 

"Nós jogamos essa partida no mesmo nível que a Croácia. Deixamos de realizar dois pênaltis, mas finalizamos mais. Eu sou muito orgulhoso dessa equipe e dos jogadores. Essa experiência de Jogos Olímpicos, esse estresse psicológico, a tensão, eles viveram pela primeira vez, outras equipes não, elas sabem como é. Isto é uma experiência muito boa para cada jogador", conclui Rudic.

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