Comunidade indígena em Boa Vista recebe tocha olímpica

Chama Olímpica foi recebida com festa tradicional em Campo Alegre / Foto: Rio 2016 / André Luiz Mello

Rio de Janeiro - Quando o paraquedista Luigi Cani pousou com a tocha Olímpica na Comunidade Indígena Campo Alegre, zona rural de Boa Vista, Roraima, na tarde deste sábado (18), foi recepcionado por guerreiros e arqueiros, como manda a tradição em momentos de festa.

Ele passou a chama Olímpica para a líder local Lourdes dos Santos Sampaio, que vestida de seus trajes típicos, era cercada por outros índios que faziam a parixara, dança da celebração das colheitas e das caças. Só que nem sempre é assim. No dia a dia, os moradores da aldeia vivem como nos centros urbanos: vestem roupas convencionais, usam conexão wi-fi, assistem à televisão e têm diploma do ensino superior.

“Existe uma visão preconceituosa em relação aos índios que moram perto da cidade. As pessoas tendem a vê-los como se fossem brancos, para questionar o que conquistaram, como o direito à terra. Mas os índios nunca vão deixar de existir”, Lucas Lima, superintendente de assuntos indígenas em Boa Vista.
 
A Comunidade Campo Alegre fica a cerca de 60km do centro de Boa Vista. Ao todo, pouco mais de 55 mil índios vivem em Roraima, ocupando mais de 46% do território do estado.  Em Campo Alegre, os alunos do ensino fundamental conhecem primeiro os costumes da aldeia e a região. Além do português, as crianças também aprendem as línguas macuxi e wapixana.
 
"Nos últimos anos, acabou ocorrendo certa aculturação, sim. Por isso, precisávamos fazer esse resgate histórico. Temos adultos aqui que não falam a língua materna", conta Marcílio Curicaca, gestor da Escola Estadual Lino Augusto da Silva.
 
Segundo o gestor da escola, este ano os alunos aprenderam o significado dos Jogos Olímpicos. "Trabalhamos conceitos como coletividade, união e parceria, que têm tudo a ver com a nossa comunidade", explicou Marcilio.
 
São esses valores que dona Lourdes tenta manter na família. Aos 56 anos, ela tem cinco filhos, oito netos e dois bisnetos. Na comunidade, se destaca pela força do seu trabalho na área da agricultura comunitária e culinária indígena. “Aqui, trabalhamos em parceria com os parentes na roça, fazemos nossa própria farinha e preparamos nossos pratos típicos há várias gerações. Tudo para manter nossa cultura”, ensina.
 
Para o antropólogo Lucas Lima, que trabalha desde 2009 com a Amazônia, o índio não pode ser visto com uma fotografia do passado e sim como uma possibilidade do presente. “Nossa sociedade se apega muito ao visível. Por isso, muitas pessoas acham que os indígenas estão em processo de transição”, completa.

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