Hortência e Fabi alertam sobre “armadilhas” da Vila Olímpica

Atletas do Time Nissan se reuniram no Rio para conhecer a Vila Olímpica e participar de workshop / Foto: Nissan / Divulgação

Rio de Janeiro - Acesso a redes sociais praticamente ininterrupto, com comentários de todos os tipos, foi um dos pontos mais lembrados no encontro promovido para 25 atletas do Time Nissan, que nesta segunda-feira (9) conheceram os apartamentos da Vila Olímpica onde ficarão nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016. Hortência Marcari, vice-campeã Olímpica do basquetebol em Atlanta 1996, e Clodoaldo Silva, 13 medalhas Paralímpicas na natação (seis ouros, cinco pratas e dois bronzes, entre Sydney 2000 e Pequim 2008) são os mentores do grupo, que já completou três anos.

Os alertas quanto à perda de “foco” pelo deslumbramento com a Vila Olímpica foram mais do que destacados também pela líbero Fabi, bicampeã Olímpica de voleibol em Pequim 2008 e Londres 2012, que falou como convidada – da mesma forma que o psicólogo Raphael Zaremba.
 
Na plateia, medalhistas Olímpicos como a boxeadora Adriana Araújo (bronze na categoria até 60 kg de Londres 2012) e o judoca Felipe Kitadai (também bronze, até 60 kg, nos mesmos Jogos), mais a velocista Terezinha Guilhermina (seis medalhas Paralímpicas - três ouros, uma prata e dois bronzes - entre Atenas 2004 e Londres 2012) passaram os dois dias do encontro ao lado de atletas mais jovens, como Ygor Coelho, do badminton, que ainda completa 19 anos no dia 24 deste mês de novembro.
 
Hortência falou dos perigos com o deslumbramento na Vila Olímpica e alertou a importância de saber “o que você está fazendo ali” para não perder o foco. “Os Jogos Olímpicos são um momento na vida de vocês. Não tem como voltar atrás. Por isso, é preciso lembrar: a Vila Olímpica tem muita coisa para desviar a atenção, mas é tudo passageiro. E ganhar medalha não é passageiro".
 
Manter o foco, para Hortência, inclui o cuidado com a alimentação. “Lá tem sanduíche, doce, suco, sorvete... Teve uma menina da nossa equipe que engordou cinco quilos na Vila! Só chupando sorvete!”, destacou Hortência.
 
Além da alimentação, detalhes como noites bem dormidas, descanso, concentração no treino são essenciais, comentou a ex-jogadora, também campeã mundial de basquetebol na Austrália 1994.
 
"E vocês são parte de um grupo. Em Atlanta 1996, nossa seleção combinou de não comer chocolate até o fim daqueles Jogos. Mas vi uma garota comendo um pedaço e fui cobrar. Ela me falou: ‘Mas é só um pedacinho’. Realmente, não é o pedacinho que vai fazer perder jogo, perder medalha. Mas essa é uma atitude egoísta. O individual falou mais que o grupo – e isso faz perder jogo, perder medalha”.
 
Fabi, que se aposentou da seleção brasileira mas não do voleibol, destacou dois pontos: a experiência de “jogar em casa” nos Jogos Pan-Americanos 2007, quando o time brasileiro, favorito, perdeu o ouro de Cuba, e também a diferença entre Pequim 2008, quando ainda o acesso a redes sociais não era tão intenso, e Londres 2012.
 
Sobre o Pan 2007, Fabi diz que a derrota para as cubanas foi sua pior experiência como atleta, porque o time brasileiro era superior tecnicamente. “Foi muito doída. Acredito que faltou foco. Jogar em casa é gente pedindo ingresso, pedindo passe para entrar na Vila, é questão de dormir ou não em casa. São tantas coisas externas, tantos desvios que às vezes nem percebemos. E não tem mistério. Não adianta achar que na hora vai dar certo, porque não vai”.
 
Com relação às diferenças entre os dois Jogos, Pequim 2008 (quando o Brasil foi campeão sem perder um set) e Londres 2012 (onde o Brasil quase foi eliminado na primeira fase), Fabi comentou: “Em 2008, conseguimos cortar as armadilhas antes. Mas também não tinha tanto acesso à internet. Em 2012, estivemos a dois sets de voltar para casa”.
 
O que aconteceu? Fabi diz que o time não achava respostas até a derrota para a Coreia do Sul. Na madrugada, em que ninguém dormiu, se conversava sobre o que teria feito de errado, o que se escreveria e se falaria de “barbaridades” se o Brasil voltasse sem passar da primeira fase (a seleção feminina de voleibol acabou vencendo a Rússia em um jogo histórico e conquistou o segundo ouro Olímpico).
 
Os detalhes são tão importantes – o que pode incluir o “sacrifício” de se desligar do celular, de preocupações com ingressos de familiares e amigos. E até outros, pré-combinados, como as duas acabaram comentando: processos diferentes, em décadas diferentes, mas com o mesmo objetivo.
 
Foi Hortência que lembrou: “Seleção feminina, mulher com TPM. De 12, quatro vão estar menstruadas ao mesmo tempo. Assim, combinamos de todas tomarmos pílula para Atlanta 1996, para não menstruarmos”. Fabi emendou: “E nós fizemos o contrário, com orientação médica, com todas menstruando ao mesmo tempo. Menstruamos todas antes dos Jogos Olímpicos”.
 
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