Atleta foge da Síria, sobrevive nadando em mar aberto e já sonha com Jogos

Yusra, especializada em nado borboleta, nadou os 200m no Mundial de 2012 / Foto: Mirko Seifert

Rio de Janeiro – As histórias relatadas dos refugiados de guerra são muitas vezes sangrentas e com poucos sobreviventes. No caso das irmãs Yusra e Sarah Mardini, porém, as vidas foram salvas graças ao esporte.
 
Fugidas da guerra civil que destrói a Síria há quase 5 anos, as duas resolveram embarcar na tentativa de uma vida mais pacífica e sem o iminente medo da morte. Yusra, com 17, e Sarah, com 20, entraram num pequeno bote inflável com mais 20 pessoas rumo à ilha grega de Lesbos, que seria seu passaporte para uma vida normal.
 
Em agosto de 2015, as irmãs saíram no mar mediterrâneo, à noite. A escuridão da viagem, somada ao medo de que algo pudesse acontecer, que fossem pegas, eram alguns dos ingredientes que mais tarde impulsionariam elas para uma decisão que salvou suas vidas.
 
Sobrecarregado, o bote balançava demais em meio às fortes ondas do mar Egeu. Malas já haviam sido jogadas ao mar em busca da sobrevivência de todos, mas o barco ainda pesava. Foi aí que Yusra, Sarah e mais dois homens resolveram pular do bote e seguir nadando. Uma das mãos segurava sua corda e a outra fazia o movimento de braçada. Os quatro permaneceram por três horas nadando.
 
Yusra sabia que sua chance de sobrevivência residia na natação. Ela havia participado como nadadora síria dos 200m e dos 400m livres no Mundial da Turquia, em 2012, com apenas 14 anos. Despontava como atleta olímpica, mas a guerra acabou a obrigando a abandonar o esporte. Por isso, quando mergulhou na escuridão do mar, sabia que suas chances eram reais.
 
“Eu não tinha medo de morrer. Eu sei nadar. Sabia que não aconteceria nada comigo nem com minha irmã. Tudo que aconteceu só me fez mais forte. Só que nosso barco estava perto de virar e eu e minha irmã e mais dois rapazes pulamos e passamos a empurrar o barco com ondas grandes e 20 pessoas dentro para chegar à ilha. A natação salvou a minha vida e a de outras pessoas também. Sou grata por ser uma nadadora e não me perdoaria se não conseguisse salvar essas pessoas, já que na Síria cheguei a trabalhar como salva-vidas em uma piscina”, relata Yusra ao Globoesporte.com.
 
As irmãs foram recebidas por estranhos dispostos a ajudar na chegada dos refugiados assim que alcançaram terra firme. Ganharam roupas e foram levadas para Atenas pelas autoridades gregas. Seguiram até à Áustria e, finalmente, chegaram na Alemanha, onde a natação teria novamente papel de protagonista.
 
O clube local Wasserfreunde Spandau 04, sabendo da história das irmãs, convidou as duas para voltarem a treinar. Fã de Cielo, Yusra voltou a sonhar com as Olimpíadas. “Eu só queria ter um futuro. Queria ir para uma faculdade, queria continuar sendo uma nadadora internacional e minha irmã também”, pede Yusra.
 
“Na Síria a situação não era boa para os treinos e a federação estava tentando nos dar boas condições e mesmo nível que os demais, mas era difícil, apesar deles estarem tentando isso o maior tempo possível. Todo mundo sabe que o sonho de qualquer nadador ou atleta é chegar aos Jogos Olímpicos e ganhar uma medalha de ouro. Este é meu plano para os Jogos Olímpicos. Eu estou focada para 2020, mas se meu plano funcionar para este ano, no Rio 2016, eu estarei lá”, conclui a atleta de 17 anos.
 
 
 

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