Os bastidores da imprensa no dia em que Usain Bolt se tornou o maior corredor da história

Usain Bolt no momento em que entrou para a história / Foto: Richard Heathcote / Getty Images

Rio de Janeiro - "Vocês querem falar com ele?". Essa é uma frase comum de se ouvir na Rio 2016 quando um atleta menos conhecido passa pela zona mista - área em que todos os competidores precisam passar após suas provas, e onde repórteres de TV, rádio e imprensa escrita esperam. Quando é um brasileiro como Thiago Pereira ou Rafaela Silva (cujo ouro, o primeiro do Brasil nesses Jogos, o Esporte Alternativo cobriu de perto), nem precisa oferecer, porque os jornalistas logo se amontoam pela entrevista. Quando se trata então de alguém como Michael Phelps ou Usain Bolt a situação é oposta: a busca por uma entrevista se torna uma epopéia jornalística.

E foi neste cenário que, neste domingo, no Estádio Olímpico, a mídia internacional viveu provavelmente uma de suas maiores operações de imprensa da história. Tudo porque ele, o homem mais rápido do mundo, estava prestes a entrar para a história (e entrou, Bolt foi tricampeão olímpico dos 100 metros rasos pela primeira vez na história, coisa que você provavelmente já sabe).

Os bastidores da cobertura desse momento histórico foram tão eloquentes e difíceis que podem ser comparados ao feito de Bolt dentro da pista. A começar pelo transporte de mídia, que é específico para a imprensa e sai do Parque Olímpico para o estádio de atletismo. Os ônibus que nos transportam pelas arenas olímpicas têm, quase sempre, atrasado, ou sofrido algum outro problema logístico. O EA já soube de motorista que não sabia o caminho até o destino; ônibus que saiu adiantado, o que é uma raridade mas atrapalha quem se programa pelos horários divulgados oficialmente; e superlotação, que neste domingo foi comum, sobretudo nos horários de pico, próximos ao início da noite mais procurada do atletismo nessa Olimpíada.

Jornalistas de pé aguardando os 100m nas tribunas de imprensa do Engenhão / Foto: Esporte Alternativo

Cada uma das arenas olímpicas possui pelo menos um Centro de Mídia, equipado com mesas com tomadas, internet wi-fi e de alta velocidade via cabo para que os jornalistas possam trabalhar. Além disso, quase todas as instalações possuem tribuna de imprensa, local em que os profissionais podem acompanhar as competições e, também, caso queiram, trabalhar (as tribunas são equipadas da mesma forma que nos centros de mídia). 

No Estádio Aquático, onde Michael Phelps finalizou o último capítulo de sua história olímpica com mais cinco medalhas (sendo quatro de ouro), o acesso para as finais da natação, que ocorreram durante toda a primeira semana de Olimpíadas, era controlado. Isso porque a arena não possui um espaço tão grande para a imprensa como o Engenhão, por exemplo. Dessa forma, o COI (Comitê Olímpico Internacional) promoveu a distribuição de ingressos para a imprensa, que eram requisitados juntamente com a credencial para a entrada. No atletismo, mesmo com a incomensurável demanda de cobertura jornalística, o acesso é permitido a toda imprensa credenciada, sem necessidade de apresentar ingressos. 

Neste domingo, o estádio certamente contou com uma de suas maiores coberturas da história. Os jornalistas se dividiam entre ficar no Centro de Mídia, acompanhando pelas várias televisões dispostas no local as provas, ou nas tribunas de imprensa, vendo a história acontecer. O EA resolveu subir às tribunas às 22h21, quatro minutos antes de Bolt vencer Gatlin por apenas oito centésimos. 

As tribunas estavam superlotadas, os espaços dedicados à imprensa se confundiam com as arquibancadas de torcedores comuns. Momentos antes da largada, todos os jornalistas se puseram de pé para acompanhar os dez segundos mais aguardados da Rio 2016. 

Não conseguimos encontrar um profissional que estivesse alheio ao que estava prestes a acontecer. Celulares: a postos. Olhares: também. E o silêncio absoluto para a largada triunfante. 

Após os 9.81 segundos que fizeram de Bolt o tricampeão olímpico dos 100 metros rasos, boa parte da imprensa se deslocou para a zona mista, uma das maiores que a imprensa mundial já viveu. Os profissionais precisaram ir do quinto piso, onde ficam as tribunas, para o primeiro, da zona mista. A locomoção foi bastante difícil, porque dos cinco elevadores existentes, apenas dois funcionavam, e de forma precária (demoravam de 10 a 15 segundos para abrir as portas em cada andar que paravam). Os mais apressados optaram por descer os cinco andares pelas escadas ou pelas rampas de acesso. 

Zona mista ficou lotada à espera de Bolt / Foto: Esporte Alternativo

No local, centenas de jornalistas se juntavam para esperar a vinda de Bolt, que demoraria mais do que o normal pois o atleta estava atendendo a fãs e familiares nas arquibancadas. 

As zonas mistas da Rio 2016 são montadas hierarquicamente: quem paga mais, leva o melhor ponto, basicamente. A Rede Globo, para se ter ideia, é uma das únicas emissoras no mundo que tem acesso ao local de competição, o que dá a ela exclusividade na primeira entrevista pós-prova de cada atleta (daí a revolta pública da Globo, através do microfone de seus narradores, com o fato de Neymar não ter falado com a imprensa após o empate do Brasil contra o Iraque). Além da emissora brasileira, NBC, que transmite os Jogos Olímpicos nos EUA, e OBS (Olympic Service Broadcast, o serviço de transmissão oficial das Olimpíadas) detêm o espaço prioritário, antes da zona mista. Depois delas vêm as demais emissoras de TV, de rádio, agências de notícias e imprensa escrita comum. 

Na zona mista, a espera por Bolt durou algumas horas. Entre sua vitória e a chegada no local onde os jornalistas o aguardavam foram 1 hora e 30 minutos. Neste período, muitos desistiram, sobretudo porque haveria uma coletiva de imprensa após a zona mista com o campeão - então poderia ser melhor guardar um dos poucos lugares disponíveis na sala de coletiva.

A chegada de Bolt alvoroçou a zona mista, com jornalistas tirando foto e arriscando até selfie com o campeão. Bolt falou pouco com cada uma das baias de mídia, e acabou se dirigindo para a coletiva de imprensa logo depois. 

Com a sala absolutamente lotada, impossível de se locomover, o recordista mundial falou da vitória histórica, e do quanto precisava desse ouro para ser um dos maiores que o mundo já viu. O americano Justin Gatlin, que poderia ameaçar Bolt e ficou atrás apenas do jamaicano por apenas oito centésimos, fez questão de dizer que não são inimigos, mas que admira o campeão olímpico e é grato por ele tê-lo feito se esforçar para melhorar cada vez mais. Bolt garantiu que a admiração é recíproca.

O velocista ainda volta amanhã e terça-feira ao Engenhão para disputar também o tricampeonato dos 200 metros rasos - além, é claro de uma outra estratosférica cobertura da imprensa mundial. 

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