Profissionais de diferentes países fazem dos Jogos um estilo de vida

A coleção de credenciais do americano Todd Severson, rumo à sua 10ª participação dos Jogos / Foto: Rio 2016

Rio de Janeiro - Eles têm os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em seu DNA. São especialistas em áreas que muita gente nem sabe que existe, mas que são essenciais para a construção do maior evento esportivo do planeta. Uma vez que sua missão é cumprida, aprendem as primeiras palavras de uma língua nova e começam todo o ciclo de novo. E se auto intitulam "Ciganos Olímpicos".
 
O Comitê Organizador Rio 2016 conta com o know-how de 84 "ciganos" de 19 países. E o sucesso contínuo dos Jogos deve muito à experiência desses profissionais, fundamentais para a transferência de conhecimentos de uma cidade-sede para outra. Alguns deles, como o norte-americano Todd Severson, estão no negócio há décadas.
 
“Conheci alguns australianos enquanto trabalhava nos Jogos de Atlanta 1996, os primeiros da minha carreira. Me mudei para lá em 1998, para trabalhar em Sydney 2000. Eu costumo dizer que este foi o “início do fim” para mim. De lá, continuei sendo contratado para diferentes projetos – Salt Lake, Atenas, Torino, Pequim, Vancouver, Londres, Sochi e, finalmente, Rio”, conta Severson, gerente de Serviços dos Jogos do Comitê Rio 2016.
 
Severson é responsável atualmente por operações complexas e contratação em grande escala, como acomodações, alimentos e bebidas, serviços de limpeza, uniformes, entre outros.
 
“Ao longo da minha carreira, já trabalhei com ingressos, serviços do evento, segurança, instalações, força de trabalho, e por aí vai. Acredito que todas essas experiências em outras edições dos Jogos me ajudam em muitos aspectos a realizar o meu trabalho aqui, pois temos um desafio enorme a cumprir para o Rio 2016”, conta.
 
Cada projeto é uma nova experiência para os "Ciganos Olímpicos", com novos desafios e novas soluções. Para a australiana Anne-Maree Holland, gerente de Operações de Força de Trabalho do Rio 2016, o intercâmbio cultural é um dos principais atrativos da vida nômade.
 
“Às vezes, pode ser um tanto cansativo ter as mesmas discussões em cada Comitê Organizador, mas ao mesmo tempo, é muito excitante ver como o projeto se desenvolve de maneiras diferentes em cada lugar. Cada Comitê acaba criando a sua própria personalidade e jeito de fazer as coisas”, explica Anne-Maree.
 
O francês Pierre Leclerc, gerente de Licenciamento do Comitê Rio 2016, estava determinado desde cedo a trabalhar com eventos esportivos. 
 
"Em 2003, eu consegui um emprego em um clube de futebol em Nova York e já trabalhei em eventos esportivos em 11 países", revela. "Londres 2012 foi a minha primeira experiência Olímpica e uma das mais diferentes que tive até agora. Realmente não há nada mais complexo do que os Jogos", diz.
 
Leclerc e sua esposa Mathilde Meurisse, que é gerente de Eventos-teste no Rio 2016, também foram os primeiros "Ciganos Olímpicos" a ser pais no Comitê. Jeanne, filha do casal, nasceu em 2013.
 
"Quando decidimos ter um bebê, não sabíamos onde estaríamos vivendo. Consegui o trabalho no Rio e nos mudamos para cá. Minha filha tem um visto brasileiro, então, quem sabe um dia, ela vai crescer e dizer: 'Eu sou carioca', e voltará a viver aqui", disse Leclerc.
 
Já a italiana Lucia Montanarella viveu os dois lados da sua profissão. Jornalista de formação, conheceu o mundo Olímpico como uma das repórteres do jornal italiano “Il Tempo” durante a cobertura dos Jogos Barcelona 1992. Hoje, com nove edições dos Jogos no currículo, trabalha do outro lado da bancada, como gerente de Operações de Imprensa, e tem a missão de organizar toda a estrutura de serviços para atender aos jornalistas durante o evento.
 
“Como eu também já tive a experiência de cobrir as competições, sei exatamente o que é preciso para fazer o trabalho da melhor forma. Tenho a minha própria experiência para me guiar. Sei o quão importante para o nosso trabalho é a questão de transporte, acomodações, tecnologia, porque vivi isto na pele”, diz.
 
A australiana Anne-Maree conheceu o marido, o norte-americano Craig Holland, que ocupa atualmente o cargo de gerente de Planejamento Regional do Rio 2016, quando o entrevistava para uma vaga nos Jogos Salt Lake City 2002.
 
"Conheci o Craig nos Estados Unidos. Ele me pediu em casamento na Austrália e, quando nos casamos, já estávamos morando em Atenas. Nossa filha, Isabelle, nasceu em Vancouver, tem três passaportes e já morou em três países antes de completar cinco anos. Nos consideramos muito sortudos de poder compartilhar essas experiências juntos”, conta.
 
Já Lucia Montanarella vive na a ponte-aérea entre o Rio de Janeiro e Finale Ligure, na costa italiana, onde mora o marido. Os filhos, segundo ela, estão acostumados a acompanhar a mãe a cada nova empreitada e “estão crescendo com os Jogos”.
 
“Meu filho Pietro tinha apenas três anos quando fomos para Sidney e, até hoje, já esteve em seis edições dos Jogos”, conta.
 
lexibilidade e espírito de aventura são características essenciais para aqueles que querem experimentar o estilo de vida "Cigano Olímpico".
 
“Existem poucos trabalhos no mundo que te proporcionam um ambiente onde você é incentivado a vencer os seus limites diariamente, ao mesmo tempo que está cercado pelas pessoas mais interessantes do mundo. Uma vez, tentei voltar para um trabalho corporativo na Austrália, mas odiei tanto que desisti após três meses!”, conta Anne-Maree.

 

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