Vizinho do parque olímpico, morador precisa de credencial para ir na própria casa

Obra do Parque Olímpico invade dia a dia de moradores que resistem a remoção / Foto: Divulgação

Rio de Janeiro – Já imaginou a sua casa, na qual você mora há anos, começar a ser engolida por um gigantesco empreendimento da construção civil ao ponto de você precisar mostrar uma credencial para entrar na própria residência? Parece absurdo, mas é esse o caso do estudante de contabilidade Pedro Berto, de 24 anos, que vive isolado dentro da construção do Parque Olímpico, que receberá os Jogos Rio 2016, no Rio de Janeiro. As informações são da BBC Brasil.
 
"Parece que a gente é presidiário. Não pode trazer visitas, só entra e sai de carro, escoltado. Não faço mais parte da Vila Autódromo, agora eu moro dentro de um canteiro de obras", explica o morador, em referência à antiga comunidade que vem sendo removida há meses num polêmico embate entre os moradores e a prefeitura.
 
Pedro conta que os trabalhadores da obra, com ajuda da Guarda Municipal, dividiram a comunidade Vila Autódromo em duas partes, com tapumes no meio da rua que margeava a obra do Parque Olímpico. Dessa forma, os limites das construções chegaram até a Lagoa de Jacarepaguá, “engolindo” algumas casas de moradores do local.
 
"Isso mudou tudo. Minha mãe e minha irmã saíram daqui, não tinha a mínima condição de elas morarem dentro da obra. Além de todos os riscos há uma série de focos de mosquito, e ficamos preocupados com os vírus da dengue, zika e chikungunya", afirma o estudante.
 
Hoje, cerca de 60 famílias ainda vivem na comunidade, presente no local há mais de 20 anos. Antes do início do doloroso processo de remoção, há dois anos, esse número era dez vezes maior.
 
"Na prática, agora, eu moro dentro da obra. Não tem mais carteiro, coleta de lixo. Tem dia que tem luz, tem dia que tem água, tem dia que não tem nenhum dos dois. Não posso receber visitas, e se eu passar mal e ligar para um bombeiro, vão achar que é trote se eu disser que moro dentro do Parque Olímpico", explica Pedro.
 
O estudante hoje percorre dois km entre a guarita de segurança das obras e a sua casa. Ele passa por algumas das arenas e estádios do Parque Olímpico, que em agosto serão o centro do mundo durante as competições esportivas.
 
"É surreal. Eles estão impedindo meu direito de ir e vir. Eu sou cidadão, eu ainda moro aqui, e ainda tenho minha casa, mas a verdade é que a gente sai sem saber se quando a gente voltar a nossa casa vai estar de pé. Parece que a gente está na Palestina, está tudo bombardeado", reclama o jovem, que milita contra o processo de remoção dos moradores da Vila Autódromo, denunciado pelo Núcleo de Terras e Habitação por não permitir, por exemplo, que os moradores retirem seus móveis e demais pertences antes da demolição das casas.
 
Eduardo Paes disse, em entrevistas, que “parte da comunidade poderia ficar” e que só sairia “quem quisesse”. Para Pedro, no entanto, a situação de permanecer fica cada vez mais difícil. "A pressão foi muito grande, e ficou cada vez mais difícil resistir. Eu ainda estou firme e forte na luta, estou lutando na Justiça pela permanência da minha moradia. O processo da prefeitura deu certo, à base de pressões, mentiras, de todos os meios que eles usaram, eles conseguiram levar a comunidade. Resta muito pouco", justifica.
 
"Estou sem telefone há um mês, e até agora ninguém veio recolocar a linha. O carteiro não passa mais aqui, e a Comlurb vem recolher o lixo de 15 em 15 dias, e apenas na entrada. O resto do lixo fica todo dentro da comunidade, acumulado. Nós fazemos parte desta cidade, ainda estamos aqui. Temos que ser respeitados", finaliza o carioca.
 
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