Depois de perder ouro olímpico por doping, ciclista luta por esporte "limpo"

Tyler Hamilton fala durante o I Seminário ABCD de Educação Antidopagem, em São Paulo / Foto: Luiz Roberto Magalhães

Rio de Janeiro - O norte-americano Tyler Hamilton viveu o melhor e o pior que o esporte é capaz de proporcionar. Como ciclista, seu currículo era repleto de conquistas, entre elas a Volta da França e a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004. Mas toda a fama e todo o reconhecimento – como tocar o sino na abertura do pregão da Bolsa de Nova York ou ser convidado para atirar a primeira bola em um jogo de beisebol do Boston Red Sox, por exemplo – escondiam um segredo nebuloso, revelado de forma surpreendente em 2012, quando Tyler lançou o livro “A Corrida Secreta de Lance Armstrong – Nos bastidores do Tour de France: doping, armações e tudo o que for preciso para vencer”, em parceria com o jornalista Daniel Coyle.
 
Na obra, Hamilton não só confessa que se dopou para conquistar seus principais títulos como conta com incrível detalhamento como funcionava o esquema profissional de dopagem no ciclismo profissional e principalmente na equipe US Postal, da qual fazia parte juntamente com o superastro Lance Armstrong, sete vezes campeão do Tour de France (a corrida de estrada mais importante do mundo) e, à época, um dos atletas mais influentes do planeta. Armstrong teve todos os títulos cassados, foi banido do esporte, perdeu patrocinadores e atualmente enfrenta uma série de processos na Justiça norte-americana.
 
Depois do livro, Tyler assumiu uma nova bandeira. Hoje viaja o mundo contando sua história e alertando tanto os novos como os experientes atletas para os riscos e os perigos do uso de substâncias e métodos proibidos no esporte.
 
Tyler foi um dos palestrantes do I Seminário ABCD de Educação Antidopagem, realizado na terça-feira (7.04), no Círculo Militar, em São Paulo. O ex-campeão olímpico, que devolveu sua medalha e pediu que seu nome fosse apagado dos registros dos Jogos, se define hoje como uma pessoa mais tranquila e feliz. Para ele, ter contado a verdade teve efeito libertador.
 
“Eu me sinto privilegiado com a vida que levo hoje. Vivo em Montana (nos Estados Unidos) e adoro estar perto da natureza. Tem sido ótimo estar perto da natureza e poder descobrir quem realmente sou”, explicou.
 
Depois de enfrentar momentos complicados em que teve que lidar com crises de depressão e até mesmo com pensamentos suicidas, Hamilton hoje diz ter encontrado uma forma de recompensar tudo de errado que fez quando era atleta profissional.
 
“Um dos jeitos que posso ajudar na luta contra a dopagem é sair e participar de eventos como esse. Falar para as gerações mais novas é importante. Acho que todos sabemos que o ciclismo passou por momentos difíceis e precisamos de pessoas que possam falar sobre isso abertamente. Espero que com o tempo vejamos mais pessoas fazendo isso. Acho que é uma parte pequena que posso contribuir para pagar pelas coisas erradas que fiz”, declarou.
 
Empolgado por estar no Brasil e encantado com a amabilidade do povo brasileiro e com a forma com que foi tratado desde que chegou ao país, na segunda-feira (6.4), Tyler Hamilton mostra-se positivo em relação aos avanços dos órgãos que combatem a dopagem. Para ele, isso terá impactos determinantes nos Jogos Rio 2016. O ex-campeão olímpico não se ilude a ponto de acreditar que o mundo verá competições completamente livres de casos de dopagem, mas afirma que o caminho trilhado está certo.
 
“Falar em Jogos Olímpicos totalmente livres de doping é ingenuidade. Todos sabemos que ainda está aí nos esportes. Mas acredito que devemos ter os Jogos Olímpicos mais limpos dos últimos tempos. É preciso ver pelo lado positivo. Temos que continuar brigando duro contra o doping. Temos que trabalhar para mostrar que o esporte pode ser vencido de forma limpa”.
 
Em sua palestra, Hamilton lembrou os primeiros anos como profissional, quando ainda não fazia uso de substâncias ilegais. Ele frequentemente ouvia os colegas dizerem que ele estava indo bem mesmo competindo “paniagua” como se dizia na Espanha, onde treinava. O termo referia-se a pan y agua (pão e água) e era usado para designar atletas que insistiam em correr limpos.
 
Essa fase durou por uns três anos. Até que um dia, em 1997, um médico da equipe chamado Pedro Celaya lhe deu um comprimido vermelho (um “ovinho vermelho” como Tyler descreve no livro) e lhe assegurou que não era dopagem. O comprimido era testosterona e, a partir dali, teve início um caminho sem volta, que evoluiu para o uso de EPO (Eritropoietina, um hormônio sintético ilegal) até chegar às transfusões de sangue para ganho de performance.
 
Hoje visto como alguém que se redimiu e respeitado por ter tido a coragem de revelar abertamente o esquema de dopagem profissional no ciclismo, Tyler tem viajado para diversos países (em geral a cada três meses) para falar em palestras.  Do Brasil, ele segue para a Nova Zelândia, onde sua agenda tem mais dois eventos. Para ele, o importante, agora, é usar a experiência para ajudar no combate à dopagem.
 
“Eu fui parte do problema por muito tempo. Eu menti e fazer isso é uma forma de devolver tudo o que recebi com o esporte. Quando recebo esses convites é difícil dizer não. Educar as gerações mais novas é importante. Eu gostaria de ter tido uma melhor educação sobre esse assunto antes de ter me envolvido com dopagem. Cometi muitas decisões ruins. Hoje passo um pouco do que aprendi, mas recebo muito em troca também", concluiu. 
 
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