Esporte melhora desempenho de jovens na escola

Crianças melhoram também o convívio familiar / Foto: Danilo Borges

Rio de Janeiro - Há um local entre as ruas movimentadas, os residenciais e o comércio de Padre Miguel, zona oeste do Rio de Janeiro, que o esporte encontrou seu espaço. 
 
Em um lote que antes era tomado pelo mato, foi erguida pela prefeitura a Vila Olímpica Mestre André. Piscina, pista de atletismo, quadras poliesportivas, salas para dança, artes e judô e um campo de areia são ocupados por crianças, jovens e adultos da região.
 
Mas, não é só a infraestrutura que vem modificando o estilo de vida de algumas pessoas de Padre Miguel e das comunidades vizinhas. Uma parceria entre a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer, que administra a Vila Olímpica, e o Instituto Esporte e Educação (IEE) serviu para implantar o projeto Rede de núcleos Brasil.
 
O objetivo é desenvolver o esporte educacional, tendo como princípios a inclusão, a autonomia, o respeito à diversidade e a construção coletiva para formar cidadãos.
 
“Acredito nessa formação do cidadão como protagonista da sua vida, para além do atleta. Para que eles levem para fora da quadra o respeito ao outro, a consciência de seus direitos e deveres. Eles jogam o jogo com as regras criadas por eles, organizam eventos, fazem parte de monitorias, constroem de forma coletiva as aulas.
 
Nós somos mediadores, não somos donos do saber, dividimos a aula. Eu acho que isso é um grande patrimônio”, conta a professora de educação física Monique Gorgônio, subcoordenadora do IEE no Rio de Janeiro.
 
Ela explica que o instituto tem diferentes projetos, possíveis graças às parcerias e aos recursos captados através da Lei de Incentivo ao Esporte. Além dos núcleos, há formação de professores e eventos como as Caravanas do esporte. “Mapeamos as necessidades da comunidade, se nela não há um trabalho com esporte educacional, então buscamos parceiros para implementar o núcleo”, completa Gorgônio.
 
Na Vila Olímpica de Padre Miguel o IEE promove as atividades de ginástica para adultos e de vôlei para os jovens. A autonomia desenvolvida dentro da quadra é levada para a comunidade. Os estudantes ocupam as quadras da Vila fora do horário das aulas, organizam campeonatos em outros equipamentos do bairro e envolvem demais moradores nas atividades.
 
As aulas são ministradas pela professora de educação física Vanessa Pessoa e por uma estagiária. “Na aula de vôlei, eu não preciso pedir para eles montarem o time. Ao final do treino, discutimos situações problemáticas e buscamos as soluções. Promovemos a inclusão de todos, temos alunos especiais, alunos de diferentes idades. 
 
Na nossa aula de ginástica, a gente ensina a auferir a frequência cardíaca, a pressão arterial, são coisas para a vida”, exemplifica.
 
A troca é tão intensa que extrapola o ambiente das aulas. “As alunas da ginástica são muito fiéis. Quando elas gostam da aula, não abandonam mais. 
 
Elas falam que a aula é diferenciada, que há atenção e aprendizado. Os alunos do vôlei também são muito receptivos. Eu tenho contato com eles fora do âmbito de trabalho, tenho telefone e redes sociais deles”, revela Pessoa.
 
Giselle Calixto, 22 anos, aluna de vôlei foi uma das primeiras a ser inscritas no núcleo, com o irmão e outros vizinhos da Vila. Ela percebe uma mudança no próprio comportamento após ter iniciado as atividades. “Muitos chegaram aqui completamente diferentes do que são hoje. Eu sou um exemplo. 
 
Eu ficava nervosa com tudo, não parava para pensar nas coisas. Também era muito envergonhada. Hoje já chego e interajo com as pessoas. Com o tempo, eles me mostraram que isso tudo poderia ser diferente. Todos se ajudam”.
 
A metodologia também tem contribuído para melhorar a vida familiar, como no caso da estudante Donata Almeida, 14 anos. As aulas são uma oportunidade de aumentar o convívio com o pai, que sempre a acompanha quando tem um tempo no trabalho na fábrica de papelão. “Ela está mais solta e dedicada. 
 
O rendimento na escola, que já era bom, melhorou”, constata Adílson Almeida. A filha concorda. “Eu mudei para caramba, a Vila ajudou bastante. Antes eu ficava em casa sem fazer nada, agora, chego da escola, almoço, tomo banho e venho. Aprendi a ser honesta e a assumir os meus erros. 
 
Aqui a gente tem laços de amizade, se fala fora do horário das aulas, marca jogo por aqui perto”.
 
Levar uma vida saudável e ter um convívio social mais amplo motivaram Juliana Campos, que já levava as filhas de cinco e de sete anos para as aulas de balé e natação, a entrar na ginástica. “Queria sair do sedentarismo. 
 
Ficava em casa acomodada e resolvi fazer algo para melhorar a saúde. Uma das coisas que melhorou muito foram as dores na perna que eu tinha”.
 
Para a operadora de telemarketing, Luciana Souza, a prática de exercícios foi uma recomendação médica. Ela descobriu um problema cardíaco há alguns meses. “A disposição melhorou. Tenho mais agilidade e dei uma emagrecida. Só a caminhada até aqui já ajuda”.
 
Perto dali, as aulas da professora Vanessa são um incentivo para as crianças do colégio público Poeta Cruz e Sousa, que junto com a Vila Olímpica formam o núcleo do IEE de Padre Miguel. No total, são 253 beneficiados na região. A diretora adjunta da escola, Eloísa Barreto, conta que as crianças melhoraram o aprendizado depois das atividades físicas extraclasse.
 
“Com o esporte, elas desenvolveram muito o companheirismo, a questão das regras, o respeito ao outro e até o raciocínio lógico. A questão da cidadania, de comparar e questionar as coisas, isso se refle na sala”.
 
A professora do 5º ano, Cátia Silene, conta que os conflitos passaram a ser solucionados de forma mais simples. “Eu senti uma diferença muito grande. 
 
A gente percebe que esse trabalho é para criar a consciência de grupo, de coletividade. Ensina a não levar o conflito ao extremo, a saber dialogar. Desde o inicio percebi o interesse deles no projeto. Eles gostam dos professores, respeitam e tem interação com eles”, opina.
 
E a opinião da professora não deixa dúvidas, quando Analise Cristina Fagundes, 10 anos, descreve a alegria da turma quando chega a hora da aula de educação física. “Quarta-feira pela manhã a gente fica na expectativa. A professora Vanessa chega na porta e a gente: êêê!”

 
 

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