Lais Souza redescobre tempo e planeja: 'talvez eu seja paratleta'

Lais Souza conta detalhes de sua atual condição / Foto: Reprodução / UOL

Rio de Janeiro - "Depois que falaram que eu poderia não me mexer mais nem comer sozinha, me deu todo aquele desespero. Foi o momento em que eu senti que estava à beira a morte", a frase, dita por Lais Souza, é reflexo de um passado que não é mais presente na vida da ex-atleta brasileira, hoje tetraplégica após um acidente durante os treinos para as Olimpíadas de Sochi, em fevereiro de 2014, em Salt Lake City, nos Estados Unidos. 
 
Durante participação em um encontro promovido pela Editora Abril em São Paulo, nesta terça-feira, Lais contou um pouco da sua rotina atual, com muita esperança em cada fala. Sem mágoa aparente do acidente e da situação de inércia dos movimentos, a ex-ginasta de 26 anos descobre que o tempo pode sim ser relativo. 
 
"Hoje, meu tempo do dia a dia mudou. Antes, eu acordava 20 minutos antes de ir pro treino. Agora, preciso acordar três horas antes de ir para a fisioterapia, para dar tempo de tomar banho", explicou Lais, pausadamente, enquanto retoma o fôlego entre uma frase e outra, devido às consequências do acidente para seu diafragma.
 
Lais conta que tem extrema atenção com seu corpo hoje em dia. "Tenho sensibilidade diferente, um pouco de dormência, tenho necessidade de mexer a todo momento. A fisioterapia hoje me traz isso, me traz qualidade de vida. Porque quanto mais mensagem eu passo para o meu corpo, mais eu sinto que estou viva. Eu preciso acreditar que voltar a mexer, nem que seja só o dedinho. E as pessoas que estão comigo me fazem acreditar nisso", explicou a ex-saltadora, que faz três horas de fisioterapia por dia. 
 
O que ela mais lamentou quando voltou a si, após o acidente, foi a falta de tato, que não a permitia mexer no celular. Mas hoje Lais consegue ser diferente de uma forma melhor. 
 
"Como eu não mexo a mão, eu me pego olhando para o céu e vejo que todo mundo ao redor está olhando para o celular. E eu só olhando, meio boiando. Hoje percebo que a atenção das pessoas é diferente, não tem mais conversa, olho no olho. A sensação que tenho é que a pessoa não queria estar ali. A gente tem que olhar mais para o lado, para o que está acontecendo em volta. O mundo está muito louco. Essa loucura de trabalho, trabalho, trabalho tem que ser repensada", pontuou.
 
A brasileira não pensa tanto em projetos futuros, mas tem muita esperança. "Eu coloquei uma data, falei que vou entrar andando na Olimpíada de 2016. Foi uma brincadeira, mas não foi. Se eu estiver mexendo pelo menos um dedinho, já está bom. Eu gostei de colocar essa data. Espero que daqui a alguns anos, todo mundo que esteja na cadeira [de rodas] levante e saia andando", disse. 
 
Depois de duas participações em Olimpíadas de verão e uma classificação para as de inverno, cabe ainda uma possibilidade: voltar a ser uma atleta de alto nível. Melhor, paratleta, como ela mesma se corrige.
 
"Eu conheci a bocha adaptada. Para esse esporte, não precisa ter movimento. Tem uma equipe profissional no Rio e eu pretendo conhecer. Talvez eu seja uma atleta, uma 'paratleta' logo, quem sabe", finalizou Lais.
 
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