Após blindagem, ginasta desabafa sobre racismo: "ele sempre passou dos limites"
Rio de Janeiro - Ângelo Assumpção está se recuperando de dores nas pernas e pretende estar inteiro para o Mundial de Ginástica Artística, na Escócia, no fim de outubro. O atleta que ganhou as páginas há dois meses após ser vítima de racismo, porém, luta contra outras cicatrizes e falou abertamente sobre o ocorrido com seus companheiros de seleção.
Em entrevista ao jornal O Globo, Ângelo disse ter sido controlado pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) após o vídeo em que Arthur Nory, Fellipe Arakawa e Henrique Flores vir a público. Nas imagens, compartilhadas no aplicativo Snapchat, os companheiros de treino do ginasta protagonizavam atos racistas: "O saquinho do supermercado é branco. E o do lixo? É preto".
Segundo Ângelo, a CBG o impediu de dar entrevistas a não ser por e-mail. “Era uma situação que eu não estava acostumado a lidar. Poderia dizer alguma coisa de momento. Então, preferiram me blindar. Eles (a CBG) não queriam que eu falasse”, disse.
Os atletas foram afastados por 30 dias na época da repercussão e fizeram um novo vídeo se desculpando.Para o ginasta, no entanto, a relação com Arthur Nory, de quem era muito amigo, não é mais a mesma. Segundo ele, Nory passou dos limites.
“O relacionamento com os atletas ainda está mexido. Principalmente, com quem causou tudo isso, que foi o Arthur Nory. Ele era meu amigo há mais de 10 anos, sempre soube que não poderia ter me exposto daquela maneira. O vídeo que ele (Arthur) fez foi a gota d’água. Depois, ainda achou tudo normal. Não aceitei por completo a desculpa dele. O convívio continua, somos companheiros de clube e de seleção, mas a amizade não é a mesma”, desabafou Ângelo.
“Com Fellipe e Henrique, não fiquei tão magoado. Nos conhecemos há cinco anos e sei que foi um caso isolado. Mas com o Arthur, eu sei que não foi bem assim. Ele sempre passou dos limites, me pedia desculpas, mas nunca mostrou uma mudança de atitude. Sempre voltou a fazer as mesmas brincadeiras”, completou, segundo o jornal.
Mesmo com o ato racista e a mágoa guardada por Ângelo, o atleta resolveu não entrar com processo na Justiça.