Primeira negra campeã mundial, jamaicana quer repetir feito

Alia Atkinson abre o sorriso depois da vitória no Mundial de Doha / Foto: Getty Images

Rússia - Na Jamaica, um país que respira velocidade, o caminho natural no esporte é a pista. Se seguisse nessa direção, Alia Atkinson provavelmente teria encontrado a estrada mais livre, sem tantos obstáculos. Ela não quis. Primeiro, por vontade de seus pais. Depois, por escolha  própria. A menina que aprendeu a nadar nos primeiros anos de vida parecia predestinada a quebrar barreiras. Dentro das piscinas, foi derrubando uma a uma. A principal delas foi no ano passado, quando tornou-se a primeira mulher negra campeã mundial na natação, no torneio disputado em piscina curta, em Doha. Agora, no Mundial de Kazan, a jovem atleta de 26 anos tenta ignorar novamente o improvável para, quem sabe, repetir o feito histórico na piscina olímpica.   

- Eu vou tentar tudo o que a Jamaica nunca conseguiu antes. A Jamaica nunca teve uma medalha mundial na piscina longa. Se eu conseguir fazer isso de novo, será fantástico. Esse é o meu objetivo. Mas uma coisa que eu aprendi nesses meus 26 anos é que não se deve criar muita expectativa, porque qualquer coisa pode acontecer – disse Alia, que avançou para as semifinais dos 100m peito nesta segunda-feira.
Optar por um esporte diferente de atletismo na Jamaica é quase uma ousadia. As pistas costumam ser o destino da grande maioria dos jovens que decidem praticar o esporte. Não por acaso, o maior velocista do mundo, Usain Bolt, vem das terras jamaicanas. O histórico do país nos Jogos Olímpicos evidencia essa particularidade.

Das 67 medalhas conquistas pela Jamaica em Olimpíadas apenas uma não foi do atletismo. Em 1980, em Moscou, David Weller fez história ao levar o bronze na prova de ciclismo de 1km contra o relógio.   

Escolher uma rota diferente requer disposição e determinação. Características que nunca faltaram a Alia. O início no esporte foi de forma despretensiosa, em sua cidade natal, St. Andrew. Os pais Tweedsmuir e Sharon não queriam que os filhos seguissem o padrão da maioria dos jamaicanos, que não sabem nadar, e os colocou em uma escolinha de natação ainda crianças. Alia, que até chegou a correr na escola, acabou tomando gosto pelas piscinas e logo mostrou ter talento. O suficiente para mudar sua vida por completo. De família humilde, sofreu com a falta de apoio no início da carreira e trocou a Jamaica pelos Estados Unidos, aos 11 anos, em busca de melhores condições para construir a carreira de nadadora.    

- Cerca de 75% dos jamaicanos não sabem nadar e nós somos uma ilha. Espero que esse número caia. Aprendi aos oito anos e isso me ajudou. Meus pais sempre acharam importante nos ensinar, porque se qualquer coisa acontecesse, conseguiríamos chegar do outro lado - explicou Alia, que está animada para os Jogos do Rio de Janeiro, onde disputou em 2007 os Jogos Pan-Americanos e se apaixonou.
 
 
Nos Estados Unidos, o talento de Alia começou a ser lapidado. Aos 15 anos, a jamaicana alcançou sua primeira grande façanha ao se classificar para os Jogos Olímpicos de Atenas 2004. Duas outras participações olímpicas viriam em seguida em Pequim 2008 e Londres 2012. A primeira medalha olímpica da Jamaica na natação por muito pouco não saiu na Inglaterra. Ela terminou em quarto lugar nos 100m peito. Mas outra incrível conquista estava cada vez mais próxima.    

A jamaicana de sorriso fácil e fala acelerada precisou ir ao Catar para colocar a Jamaica no mapa da natação mundial. E não só isso. Foi também no Mundial de piscina curta de Doha 2014 que Alia quebrou paradigmas ao torna-se a primeira negra campeã mundial da modalidade praticada predominantemente por brancos. A façanha nos 100m peito, que veio acompanhada do recorde mundial, mudou de vez a vida da ousada nadadora. Agora, ela espera que suas conquistas inspirem as novas gerações.   
 
- É algo que eu trabalhei duro para fazer e espero que tenhamos mais feitos. Espero que eu seja a primeira de muitas das próximas gerações que vão conseguir chegar. Há muito a ser feito, estou tentando sair da maioria. São muitos anos de muito trabalho duro e digno para fazer o que poucas pessoas podem fazer - comentou a simpática nadadora.

A Jamaica já conhecia Alia Atkinson, mas, depois de Doha, a jovem nadadora virou uma celebridade no país. Ao lado de Usain Bolt, foi eleita a melhor atleta do ano 2014 e, recentemente, viu a história de sua vida ser documentada em um filme. “Alia, Darling of The Pool” foi lançado no mês passado, no Festival de Cinema da Jamaica.   

Após a prata nos 100m peito nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, há duas semanas, Alia encara um novo desafio no Mundial de esportes aquáticos de Kazan, esta semana. Depois do ouro inédito no Mundial disputado em piscina curta, em 2014, a jamaicana terá a chance de repetir o feito na tradicional piscina olímpica, na Rússia. Nas eliminatórias dos 100m peito, nesta segunda-feira, ela deu o primeiro passo ao se classificar para as semifinais com o oitavo tempo (1m07s09). Mais tarde, a partir das 11h (horário de Brasília), ela estará na briga por uma vaga na final.  


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