Star Sailors League leva a classe Star além dos Jogos Olímpicos

Dupla festeja o título / Foto: SSL / Carlo Borlenghi

Bahamas - Na contramão do que se poderia imaginar após a retirada da mais clássica das modalidades da vela olímpica dos Jogos de 2016, a classe Star pode fortalecer-se ainda mais com a Star Sailors League (SSL) criada neste ano pelos próprios velejadores. O objetivo da Liga é oferecer aos atletas uma oportunidade de profissionalização que provavelmente não encontrariam no rumo de campanhas olímpicas. 
 
O exemplo do modelo ficou nítido com a inédita ‘Star Sailors League Finals’, disputada nesta semana nas Bahamas, com sede no Nassau Yacht Club. Velejadores de 13 países formaram 18 duplas e competiram durante quatro dias em um nível técnico só comparável aos Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais. Robert Scheidt e Bruno Prada, o americano Paul Cayard, o francês Xavier Rohart, líder do ranking da SSL, o também americano Mark Mendelblatt e o italiano Diego Negri estiveram entre os finalistas convidados, com base no ranking da nova organização. 
 
A ideia de se criar a liga surgiu justamente da lacuna provocada pela exclusão da próxima Olimpíada. O empresário e velejador suíço Michel Niklaus, em conversa com Rohart, bronze na Star nos Jogos de Atenas, em 2004, perguntou o que ele iria fazer sem a campanha olímpica. O francês foi direto e respondeu que provavelmente voltaria a dar aulas de Optimist. Michel não se conformou com a possibilidade de que o talento de Rohart seria simplesmente abandonado. Sugeriu ao amigo mobilizar os principais velejadores da classe e depois, juntos, acabaram dividindo essa tarefa. 
 
"Queria que o Rohart, com o talento e a força que possui na vela, se mostrasse motivado a levar a ideia adiante, caso contrário eu seguiria velejando e me divertindo com as regatas. Mas ele comprou a ideia e começamos a coletar opiniões dos melhores da classe Star. Sozinho ninguém poderia fazer nada", relata Niklaus de 52 anos e que entrou pela primeira vez no barco do pai com apenas dois meses de vida, mas só começou a competir em alto nível aos 48. 
 
Consultoria permanente - "A intenção da SSL, que não tem uma sede física, é de se manter como uma consultoria permanente. Os velejadores manifestam suas vontades e nós temos a missão de apresentá-las à classe e transformá-las em realidade, desde que sejam úteis para todos. O Rohart conversou bastante com o Robert Scheidt no início do projeto, é isso que estamos fazendo há seis meses e assim continuaremos", revela o suíço, que sempre faz questão de ratificar que a SSL é dos velejadores. "Somos apenas coletores de ideias. Não precisamos de um diretor ou de um presidente. Quem toma a decisão é o velejador, que sabe como ninguém o que é melhor para ele".
 
Na fase embrionária da SSL, Scheidt contribuiu com várias sugestões, entre as quais, a extensão do percurso entre boias, variando de 1,2 e 1,6 milha (2 a 3 km), com quatro pernas em cada regata. "Quando o Michel foi à minha casa no meio deste ano em Garda e saímos para jantar, assumi o compromisso de vir às Bahamas para disputar a final, mas sinceramente não acreditava que a Liga estaria em pouco tempo tão bem organizada. Fiquei surpreso quando cheguei a Nassau e vi que tudo estava exatamente conforme o Michel planejara. É animador para a classe", relata o campeão da primeira Star Sailors League, que conta com os patrocínios do Banco do Brasil, Rolex, Prada e Deloitte, além dos apoios do COB e da CBVela na campanha olímpica para os Jogos do Rio de Janeiro/2016.
 
A realização da SSL Finals nas Bahamas, com regatas eliminatórias, também foi uma proposta dos próprios velejadores. Como as ilhas que compõem o país ficam em média a 300 quilômetros de Miami e a maioria dos participantes é americana, tornou-se mais prático realizar a competição no Caribe, em meio a um cenário paradisíaco e que também oferece o vento considerado ideal (em torno de 15 nós) para uma disputa de monotipos. 
 
"Os velejadores queriam uma competição de encerramento de temporada que não exigisse longa permanência no local e que não tivesse um custo elevado. Optamos pelo Nassau Yacht Club que nos ofereceu a estrutura necessária e porque também contamos com o apoio dos órgãos oficiais de esporte e turismo. Os atletas chegaram aqui e puderam perceber que já começamos a colher o que está sendo semeado. E o mais importante, todos convivendo como amigos. A briga fica só na água. Nunca havia visto um clima tão positivo em uma competição de alto nível", orgulha-se Niklaus. "O movimento ganhou força. Saímos das palavras e fizemos acontecer". 
 
Os exemplos de que os velejadores é que determinam os rumos da SSL já se fazem visíveis. O americano George Szabo sugeriu que nos campeonatos que atribuem pontos ao ranking da Liga, todos os participantes pontuassem e não apenas os primeiros colocados. Foi atendido após a proposta ser aceita pela maioria. Bruno Prada, apesar do título, questionou a forma de pontuação da final das Bahamas, que levou os dez primeiros colocados para a segunda fase em condições de igualdade, sem que o desempenho nas nove regatas da fase de classificação fosse considerado. Niklaus adiantou que a coerente observação do brasileiro será levada aos atletas. 
 
Em meio à profissionalização, principal objetivo da SSL, o velejador suíço tem vários planos. Um deles é poder levar 20 barcos Star para a África do Sul e mantê-los em Cape Town por dois meses em vários eventos para que velejadores de todas as classes possam competir nos veleiros da SSL. Hoje, a Liga possui 12 embarcações. "Ainda não é possível fazer grandes deslocamentos. Prefiro investir em premiações. O atleta é a prioridade. Em breve deveremos ter uma fundação para gerir a Liga financeiramente", projeta Niklaus. "Nesta fase inicial, gastaríamos muita energia para ir ao Brasil. A SSL é muito nova para isso, mas já estamos analisando as possibilidades para uma final na América do Sul". A premiação total da primeira final foi de 200 mil dólares. Coube aos campeões, 40 mil dólares. 
 
Em busca de autonomia - O incentivador da vela quer também que a SSL adquira autonomia e fique livre da interferência de patrocinadores, ideia apoiada pelos atletas. "Ainda é cedo para buscarmos patrocinadores. O produto é muito novo, mas quando tornar-se comprovadamente forte, abriremos as portas. Quem sabe seremos procurados por nosso profissionalismo e credibilidade. Queremos adotar um formato e mantê-lo para que os atletas sintam-se livres, velejem com entusiasmo e sejam premiados de forma justa pelo esforço e capacidade demonstrados ao longo do ano". 
 
Um dos diferenciais da SSL em relação às organizações de outras classes da vela é o formato de disputa e de ranqueamento, inspirado na ATP - Associação dos Tenistas Profissionais. O ranking considera os resultados acumulados pelo velejador durante as duas últimas temporadas, sendo que são somados 100% dos pontos do último ano e 50% do penúltimo. A pontuação é determinada conforme a importância da regata: continental vale 750 pontos, as mais tradicionais somam 250, as regionais, 100, e as locais, apenas dez pontos. 
 
Scheidt chegou às Bahamas como segundo do ranking da SSL porque acumula os pontos de 2012, principalmente referentes à medalha obtida em Londres, ao lado de Bruno Prada. Em relação às competições anuais, os velejadores têm de defender os pontos da temporada anterior, a exemplo da ATP. "No próximo ano pretendemos criar quatro super eventos. Serão os nossos ‘Grand Slam’, idealiza Niklaus em comparação ao tênis. O título em Nassau, rendeu a Scheidt e Prada 4000 pontos.
 
Para manter o evento em nível elevado até na hora da premiação, a SSL trouxe às Bahamas como convidado de honra o velejador Dennis Conner. O americano vencedor de cinco edições da America's Cup deu o nome ao Troféu entregue a Robert Scheidt como novo líder do ranking da classe e ele mesmo fez a entrega. "Trazer os melhores velejadores do mundo, os meios de comunicação e organizar a transmissão virtual ao vivo é surpreendente. É muito bom correr aqui. Tive esse privilégio em várias regatas, mas com certeza tudo isso não seria possível sem a SSL. É importante para a evolução da Liga ter reunido velejadores da Nova Zelândia, Estados Unidos, vários países da Europa e Brasil. Se não fosse a SSL todos nós agora estaríamos em casa esperando o Natal chegar", analisou o bem-humorado Mr. America's Cup.
 

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